segunda-feira, 29 de março de 2010

UM DOS TEXTOS TRABALHADOS: POMO DA DISCÓRDIA E DO ROMPANTE DO COLEGA

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METODOLOGIA DE PROJETOS: UMA POSSIBILIDADE PARA A FORMAÇÃO EMANCIPATÓRIA DOS ALUNOS...¹

Ciente do modelo tecnicista e tradicional que prevalecia na instituição e de que a EJA necessita de estratégias apropriadas, o grupo responsável pela implantação do curso procurou construir um projeto educacional centrado no ser humano e que atendesse às especificidades cognitivas dos jovens e adultos trabalhadores.
Essa experiência pedagógica foi o embrião para a organização e funcionamento dessa modalidade de ensino no CEFET. As propostas discutidas e as atividades colocadas em prática foram sistematizadas e sustentadas em três eixos geradores distribuídos assim: I – “O homem inserido na casa”; II – “O homem inserido na comunidade” e III - “O homem inserido no mundo globalizado”. Com essa proposta, esperava-se que o projeto, partindo de temas escolhidos pela turma, integraria os conhecimentos das diversas áreas do saber ao desenvolver suas etapas, e, proporcionaria uma construção de conhecimentos consolidada em bases científicas e humanísticas.
Embora a formação acadêmica dos personagens envolvidos nesse trabalho, tivesse sido fragmentada e descontextualizada e ninguém ainda havia vivenciado práticas epistemológicas menos tradicionais, optou-se pela Metodologia de Projetos, pois acreditavam que essa estratégia procurava expor o aprendiz a situações de vida que lhe permitia construir e solidificar conhecimentos entrelaçados com atitudes de cidadania indispensáveis ao desenvolvimento humano. Essa visão epistemológica buscava construir e reconstruir conhecimentos num processo de ação interativa e cooperativa entre seus agentes.
O primeiro contato dos estudantes com os projetos ocorre por ocasião do “Projeto Boas Vindas”. São dois dias em que assistem a palestras sobre o funcionamento da escola e apresentações dos dirigentes, pedagogos e professores. A equipe apresenta a matriz curricular e comenta sobre a estratégia pedagógica utilizada nesta modalidade de ensino.
Do segundo período em diante, nas aulas da disciplina Metodologia de Projeto, iniciam-se as primeiras discussões sobre os projetos, quando surgem questionamentos e idéias a respeito do tema da pesquisa. Define-se um problema ligado ao cotidiano social e que satisfaça três prerrogativas: 1) ser factível ou viável, 2) ter caráter social e 3) ter relação com o curso técnico. Para ilustrar os problemas abordados têm-se como exemplos os resultados dos trabalhos de 2007: a) elaboração de “Cartilha de Normas Técnicas de Segurança no Trânsito”, b) criação de uma “Cooperativa de Segurança do Trabalho”; b) “Automação no Tratamento de Água e Esgoto”; c) “Dependência Tecnológica – um olhar psicossocial”; d)“A Metalurgia Aplicada na Construção de Moradias Populares”; e) “A Qualidade de Vida do Trabalhador da Construção Civil” (focando o estresse sofrido por esses profissionais) e o “Uso de EPI’s (Equipamentos de Proteção Individual) na Construção Civil”; f) Ervas – Uma Alternativa para a Higiene.
A delimitação do tema é baseada na sua viabilidade de concretização, dados os diversos fatores limitantes, tais como, disponibilidade de tempo e recursos materiais. Os alunos são estimulados a pensar sobre sua relevância social, sua aplicabilidade e em assuntos relacionados ao curso que fazem.
Em seguida os alunos iniciam a pesquisa teórica, recorrendo à internet, jornais, revistas e bibliotecas. Esta fase é quase que integralmente, desenvolvida de forma autônoma e sem ela o projeto não é fecundado, pois dela obtém-se a teoria que sustentará o tema estudado. Os dados de campo são oriundos de depoimentos de colegas, de instituições como ONG’s, cooperativas, associações, órgãos públicos e privados, etc. A pesquisa é bastante intensa, necessitando orientação dos professores, o que nem sempre acontece.
De acordo com os relatos, existe uma carência de medidas para efetivar a participação dos educadores nos projetos, o que tem sido alvo das discussões coletivas e preocupação por parte de alunos, docentes e equipe coordenadora.
Nesse contexto, procura-se efetivar o “questionamento reconstrutivo”, recomendado por Demo (2002) que começa com o saber procurar e questionar, o que pressupõe um novo perfil de educador, capaz de buscar informações sobre novos modos de ensinar e aprender. Afinal o desafio consiste em ensinar a pensar, o que exige cidadãos reflexivos e capazes de interagir com o mundo, que se arrisquem na busca de novos conhecimentos, conforme explica o autor.
Na interlocução com alguns professores constatamos que os estudantes não têm o hábito da leitura, apresentam dificuldades de interpretação e de trabalhar em equipe, fato que possivelmente se deve: ao tempo de afastamento da escola; à dificuldade de se reunir extra-sala de aula; à escassez de tempo para se dedicar aos estudos e à formação fragmentada e precária vivenciada em percursos escolares anteriores.
Segundo o relato de um dos educadores há uma
“[...] visão mecanicista do conhecimento e devemos observar que quando os professores de outras disciplinas participam do processo auxiliando e relacionando os conteúdos de sua área com o tema gerador, os alunos conseguem desenvolver melhor o projeto” (Z).
Ao finalizar cada módulo, os estudantes apresentam os projetos como resultado parcial. Esse momento é importante porque os conhecimentos, habilidades e competências construídos ao longo do período são avaliados por professores, pedagogas e coordenadora.
Essa proposta pedagógica possibilita maior vinculação entre os conteúdos e os problemas reais e, por isso mesmo contribui para uma aprendizagem mais eficaz, pois, como sinaliza Arroyo (2004), o aluno aprende melhor quando torna significativa a informação ou conhecimento que a ele se apresenta, quando interage com sua cultura, com sua história, assumindo compromissos com sua aprendizagem e com a comunidade. Segundo Hernández e Ventura (1998, p. 10): “[...] A Pedagogia de Projetos propicia que na escola – alunos e professores - participem e transformem em aprendizagem as experiências sociais”.
(...)
Os projetos, quando realizados em pareceria com os alunos, propiciam essa concepção dinâmica que considera não só a organização de disciplinas, tempos, espaços, equipamentos, materiais, mas também a administração de tempos de vida dos educandos. Afinal, “Um tempo não prepara o próximo, mas é vivido plenamente. Temos que trabalhar respeitando a especificidade de cada tempo”, nos propõe Arroyo (2004), que assinala a necessidade de mudar o foco do processo educativo que está centrado nos conteúdos “e recuperar também os educadores enquanto educadores, e não só como professores e transmissores de conteúdo” (ibid).
(...)
Enquanto pesquisam, os estudantes discutem, redigem textos, definem espaços, distribuem tarefas, se organizando para construir o projeto da forma mais democrática possível. O educador tem a função de orientá-los e auxiliá-los nessas construções pedagógicas, oferecendo os conhecimentos necessários, apontando fontes de pesquisa e re-organizando as ações. Mas, cabe aos alunos tomarem as iniciativas e executarem todo o trabalho. Essa prática leva à autonomia e ao “autogoverno” (autogestão da própria vida e da vida comunitária), virtudes de uma sociedade democrática em oposição ao ensino tradicional que valoriza a obediência.
Sinteticamente, podem-se estabelecer alguns princípios que regem a Metodologia de Projetos: a) respeito ao saber, às crenças e às idéias dos educandos; b) valorização dos interesses e curiosidade dos alunos; c) os conteúdos com sentido e significado para a melhoria da vida individual e comunitária; d) reflexão e ação devem são partes de um todo indivisível; e) a realidade mutável e a inteligência humana aliada a uma técnica adequada de aprendizagem conferem aos sujeitos a capacidade de transformar a si e o seu entorno; f) o trabalho democrático pode desenvolver plenamente as potencialidades criadoras e intelectuais dos atores do processo de aprendizagem; g) professores e alunos aprendem em reciprocidade; h) A experiência educativa é baseada na reflexão, que resulta em construção e reconstrução de conceitos e conhecimentos, em constante devir; i) o rigor científico deve ser estar presente no processo educativo.
(...)
(...) permite inferir que o projeto propiciou a interação com o mundo, com as pessoas e também revela que a aluna compreendeu a importância do diálogo, das trocas ocorridas nas interações para o crescimento e evolução das pessoas. Se por meio das relações sociais os sujeitos aprendem, desenvolvem-se, transformam a si e o mundo, então os projetos tendem a favorecer esse aprendizado, já que intensificam os conflitos entre os sujeitos, que se movimentam na busca de um objetivo comum.
Os participantes ressaltaram também a importância do professor, não como explicador² e transmissor de saberes, mas sim como o orientador que lhes fornece o apoio necessário às construções cognitivas, propiciando as condições adequadas para que os alunos, por si mesmos articulem os conhecimentos. Relataram que a falta dessa orientação dificultou a superação dos desafios.
¹. Fragmentos do texto “METODOLOGIA DE PROJETOS: UMA POSSIBILIDADE PARA A FORMAÇÃO EMANCIPATÓRIA DOS ALUNOS DO PROEJA”, de autoria de RAGGI, Désirée Gonçalves – CEFET-ES; PAIVA, Maria Auxiliadora Vilela – UFES. Disponível em http://www.anped.org.br/reunioes/31ra/1trabalho/GT18-4146--Int.pdf . Acesso e captura em 05/02/10. Reproduzido para fins didáticos.
². O professor explicador é aquele que embrutece ao invés de emancipar, segundo a perspectiva de Rancière em sua obra intitulada O Mestre Ignorante, 2005.
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