Da massa do pão ao
pão da massa
Francisco Carlos de Mattos*
Francisco Carlos de Mattos*
O que faz a massa do pão crescer, na verdade, não é o “amasso” que
ela recebe, nem as porradas como muita gente, equivocadamente, pensa que seja.
O responsável pelo crescimento dela é um fungo, ser microscópio batizado de
levedura.
O pão da massa, ao contrário da massa do pão, não cresce. Diminui
espaços de autonomia, de conquistas, de cidadania e o que o faz escassear-se,
apenas de não ser tão menos intenso como o fungo da massa do pão, torna-se
pelas conveniências da fome, da necessidade variada, não vistas por um número
bem significativo da população brasileira. Vide o percentual de analfabetos
totais e, o que é pior, e segundo Brecht, analfabetos políticos. Muitos
daqueles, fora das escolas e das academias, astutamente, não assumem a postura
desses, levando-nos à suposição de que essas instituições, em muitos casos,
transitam às raias da imbecilidade e continuam apensas à concepção
althusseriana da escola enquanto Aparelho Ideológico do Estado. O advento da
globalização da economia trouxe, a reboque, uma série de dificuldades que
contribuíram para a ressignificação das relações entre os homens e destes com o
mundo que os cerca.
Globalização pode, a princípio, remeter-nos à idéia de progresso
nos vários campos da atividade humana. Os avanços científicos e tecnológicos,
por exemplo, ocuparam status de fiéis da balança, elementos representativos do
desenvolvimento econômico e financeiro. A propensão do mundo do capital em
transformar incessantemente as circunstâncias do modo de produção, aumentando o
número de matéria prima e da demanda com o menor contingente de trabalhadores,
fazendo crescer o lucro do investidor, através da exploração dos poucos
trabalhadores. As idéias de Marx e Engels, lançadas em 1848, continuam, aos 164
anos, mais rejuvenescidas do que nunca.
A globalização pode ser descrita como um processo de difusão de
idéias e valores, de formas de produção e de trocas comerciais que atravessam e
rompem as fronteiras nacionais, internacionalizando também misérias, que chegam
como a face mais perversa da exclusão social, com desigualdades em todos os
níveis a começar pela injusta distribuição de rendas. Por esse caminho podemos
deduzir onde vamos chegar: pobreza, miséria, tráfico de drogas, prostituição,
exploração de menores, banditismo...banditismo...banditismo...do asfalto ao
morro(ao morro sem asfalto!), do jovem pobre do morro ao pobre jovem de família
abastada, do surrealista ladrão de galinhas ou, hoje, de tênis ou de macarrão
instantâneo em supermercados ao do colarinho branco em todos os pontos do
território nacional, principalmente no Planalto Central. Povo sem educação,
povo doente em todos os âmbitos em que couber enfermidade no ser humano. Da
cabeça (problemas neurológicos) aos pés (bicho de pé), esses doentes são
produzidos nos gabinetes refrigerados dos poderes político e econômico do país.
Quanto mais moléstias, mais fácil e propício de se implantar a política
otaviana (Otávio, primeiro imperador romano que governou de 27 a .C. a 14 d.C.) do “Pão e
Circo"¹.
Quando Otávio tornou-se o primeiro Imperador, governando de 27 a .C. a 14 d.C, Suas
primeiras medidas tinham por finalidade reestruturar a administração do novo
Estado Imperial: restringiu as funções do Senado; criou uma nova ordem
administrativa (as prefeituras); melhorou as formas de cobranças de impostos;
instituiu a guarda pretoriana com a função de garantir a proteção do imperador.
Na economia, Otávio incentivou a produção e protegeu as rotas comerciais.
Empreendeu a construção de várias obras públicas, o que gerou muitos empregos
aos plebeus.Para ganhar popularidade, Otávio adotou a política do “pão e
circo”.Tal política consistia numa estratégia do Imperador para submeter o povo
(plebe) através da promoção de eventos. O desenvolvimento dos jogos foi crucial
para que o império obtivesse o apoio popular. Podemos destacar como um dos
principais jogos da época os grandes duelos de gladiadores que concentrando
milhares de pessoas nas grandes arenas exerciam um forte poder de
entretenimento. Durante cerca de sete séculos, as lutas dos gladiadores, entre
si ou contra animais ferozes, foram o espetáculo preferido dos romanos, que ao
final de cada combate pediam com um gesto do polegar o perdão ou a morte do
lutador ferido. Gladiador era o lutador profissional que se apresentava em
espetáculos públicos no Coliseu e em outros anfiteatros do Império Romano.
* Mestre em Educação pela UERJ,
Orientador Educacional da Rede Pública
Municipal de Cabo Frio . E-mail: okkyxmattos@gmail.com / blogs: WWW.franciscomattos.blogspot.com
e WWW.pedagogiadosprojetos.blogspot.com
/ Facebook: WWW.facebook.com/okkyxmattos
¹. A Política do Pão e
Circo - "Muitos anfiteatros foram construídos ou adaptados para a luta de
gladiadores, parte da política do "pão e circo". Texto sobre A
política do pão e circo (último parágrafo) disponível em: http://www.nea.fe.usp.br/site/Fichas/HISM2S14U2A1.pdf.
Acesso e captura em 16/03/08.
Chico, com a minha humildade pedagógica gostaria de dizer que esse texto tem uma linha didática e política social de profunda qualidade e (o melhor) aplicabilidade nas nossas discussões. Vamos conversar sobre isso. ADOREI!!!! Só fiquei esperando o que vinha depois da última linha e aí... vem mais? Deu sede de palavras, deu sede de novos conhecimentos...Bjs
ResponderExcluirSe todos nós pedagogos tivéssemos o 'tamanho' da sua humildade pedagógica, o Brasil não teria nunca mais a presença da política do 'pão e circo', pois seríamos um país sério. Obrigado pelos seus comentários profundamente agregadores e estimulantes. Beijos!
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