Entender ou querer que a escola seja a única instituição a trabalhar as questões da cidadania, ajudar o aluno a alicerçar sua autonomia e a desejar construir conhecimentos, é de certa forma imputar a ela obrigações que deveriam ser compartilhadas, socializadas com outras estruturas sociais, como a família, a igreja, o partido político entre tantas outras a que pertencem as pessoas. Entendemos que a escola pode e deve contribuir com essa empreitada, mas não deve abraçar a responsabilidade como sua exclusividade. Quando isso acontece, alguma coisa vai dar errado, ela não vai desenvolver com competência alguma dessas tarefas, criando espaços e oportunidades para que as outras instituições atirem-lhes todas as pedras que encontrar.
Essa reflexão serve como considerações iniciais para um artigo que arquivei com carinho, que recontextualizamos. Entendemos que o momento exige tal ponderação e que, de certa forma, vai ao encontro do texto anterior.
O texto foi produzido por Marcus Tavares¹ e publicado no Jornal O Dia, na seção opinião, do dia 28 de fevereiro de 2009. Abaixo a reprodução do mesmo:
OSCAR MERECIDO
A escola não é o único espaço de informação, conhecimento e aprendizagem. Pelo contrário, aprendemos em todos os lugares e a todo tempo. Mas, mesmo assim, ela tem um papel indispensável à medida que organiza, contextualiza e analisa tudo o que acontece no dia-a-dia de seus alunos, contribuindo, desta forma, para a constituição de pessoas autônomas, críticas e cidadãs.
A afirmação acima, com a qual eu e vários educadores concordam, está muito bem explicitada no filme Quem quer ser milionário?, de Danny Bole e Loveleen Tandan, vencedor do Oscar de melhor filme. O longa, uma co-produção inglesa e americana, conta a história do jovem Jamal Malik, de 18 anos. Membro de uma família pobre de Mumbai, cidade da Índia, Jamal resolve participar de um programa de perguntas e respostas na televisão.
Para surpresa de todos, o garoto acerta várias questões. A um passo de responder a última e conquistar o prêmio de 20 milhões de rúpias, o rapaz é preso e interrogado pela polícia local. Afinal, como um jovem pobre e analfabeto pode ter tantos conhecimentos?
O que se segue é um enredo comovente, no qual Jamal Malik conta sua própria história de vida, mostrando - às vezes de forma sofrida, alegre e inusitada - o quanto aprendemos a cada dia, em qualquer lugar, tempo e sob as mais adversas condições. O filme mostra, portanto, o quanto aprendemos dentro e fora da escola, vivência rica e valiosa.
E mais do que isso: mostra o quanto a escola pode ser determinante, sim, na organização de toda essa vivência para a contribuição de uma pessoa melhor.
O Oscar de melhor filme foi merecido.
¹ Jornalista, professor e especialista em mídia e educação
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
TAVARES, Marcus. Oscar Merecido. O DIA, RJ, 28 de fevereiro de 2009. Seção Opinião.
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