quarta-feira, 26 de agosto de 2009

DA EQUIVOCADA ETIMOLOGIA DE ALUNO* AO BRILHANTISMO DOS MEUS ORIENTANDOS.

Francisco Carlos de Mattos **
Quanto mais nega certas mediocridades do sistema escolar e, entre elas, o silenciamento de práticas contestadoras, melhor é o aluno para a Orientação Educacional, o que não podemos afirmar que também o seja para alguns docentes.
Alguns companheiros e companheiras podem manifestar as suas indignações – rico exercício do ser humano de dizer não ao que entende como errado- em relação a esse pensamento. Se podem fazê-lo, há que se perguntar, se os alunos também não o possam.
O que se pode fazer por e com esses aprendizes, neófitos de uma pretensa revolução escolar, é orientá-los e prepará-los para a construção da força do argumento e tentar afastá-los - tarefa inglória e profundamente difícil, diante dos caminhos trilhados pela nova ordem mundial ¹ - da vontade, do ímpeto juvenil de usar o argumento da força, próprio dos que não conseguem construir um discurso convincente (aqui se inclui também um número considerável de adultos). Esta é uma das missões da Orientação Educacional, até porque não haveria razão da sua existência na escola, se todos os alunos fossem encaixilhados, se mantivessem posturas, atitudes e comportamentos como as de um monge.
Esses alunos e alunas são, escusando-nos pela, talvez, infeliz comparação, como os bebês deixados na “roda dos expostos”². Vemos dessa maneira esses meninos e meninas, principalmente, os que normalmente são encaminhados ao profissional da Orientação Educacional, convidados a se ausentarem da sala de aula, os que não se adaptam aos padrões estabelecidos pelo Regimento Escolar, pelo instituído, os que negam segundo Foucault (1988: 126),

métodos que permitem o controle minucioso das operações do corpo, que realizam a sujeição constante de suas forças lhes impõem uma relação de docilidade-utilidade (...) que visa (...) a formação de uma relação que no mesmo mecanismo o torna tanto mais obediente quanto é mais útil, e inversamente (...) A disciplina fabrica assim corpos submissos e exercitados, corpos “dóceis”.

É de bom alvitre esclarecer, que não estamos, nesse espaço, fazendo nenhuma apologia ao motim contra a direção escolar e à constituição legal do enquadre sócio-educativo, que disciplina (mil perdões a Foucault!) a convivência entre as pessoas que fazem parte da instituição. Muito pelo contrário, pensamos em contribuir com a reflexão de uma premência sempre viva e querida, como profetizado por Geraldo Vandré ³, “nas escolas, nas ruas, campos, construções” e, também, nas nossas casas. Diante de tantas violências, dos mais variados matizes, não é de todo ruim que os nossos filhos, nossos alunos se rebelem, mostrem suas contradições, suas indignações, contestem em nossas casas, nas nossas escolas. Esses lugares são propícios para que tal aconteça, pois temos a oportunidade de educá-los – diferentemente de doutriná-los – a como fazê-lo. Não é o ato em si de contestar, que pais e professores devem negar ou se precaver; mas, como contestar. O que vem a ser incômodo não é o conteúdo, mas a forma... em quaisquer circunstâncias.
Esta não é nem pode ser vista e entendida como uma tarefa só do Orientador Educacional; mas, do educador que orienta em todos os níveis, que não restringe a sua ação educativa ao simplório ato de divulgar informações científicas. Se soubéssemos a extensão dos problemas oriundos do monopólio dos conhecimentos científicos por parte de uma minoria privilegiada da população e da vastidão de soluções, principalmente para as questões conjunturais da sociedade, que tais conhecimentos trariam, focaríamos melhor a relação do até hoje incompatível binômio do processo educativo. Acredita-se, que isso não seja possível com o docente fazendo o papel de "papagaio de pirata", como simples repassador de informações. Enquanto não houver o envolvimento do sujeito com o conhecimento, com a sua própria aprendizagem, no tempo em que não aprender a caminhar com as próprias pernas, ter autonomia para formular seus adequados questionamentos oriundos de sua visão de mundo, não terá e nem verá resposta alguma para os questionamentos da vida. Não há resposta sem pergunta. E como muito bem pontuado pela excelente propaganda da TV Escola, "o que move o mundo não são as respostas, são as perguntas!".
Não tem nem como direcionarmos, enquanto motivo para entraves nas relações sócio-afetivas entre professor e aluno, o conflito de gerações, como muito se fazia na época em que cursamos o inesquecível 2º grau (denominação da época). Hoje é cada vez mais visível a presença de docentes com 21, 22 anos de idade nas salas de aula. “Meninos” ainda cronologicamente muito próximos da puberdade, deixada num ontem ainda vibrante em suas veias. Muitos desses ainda se pegam e são pegos, em alguns momentos de suas vidas pessoal ou profissional, com certas posturas adolescentes. Não que isso seja condenável. Depende do lugar e da hora em que tal aconteça.
Do conflito ao confronto. Agora as idéias não se opõem, muito ao contrário, elas se defrontam, se colocam face a face. Do velho professor que critica certas atitudes, sendo analisado pelos alunos como ultrapassado, careta, péla-saco e outros adjetivos não muito recomendados para esse espaço, conflitando-se com os meninos, ao jovem docente, que com tenra idade, é percebido e observado como uma ameaça, como mais um a ocupar um espaço de conquistas de espaços... também em todos os sentidos! Então, aquele é o paradigma da ameaça à liberdade do se fazer aparecer, do, caetanamente, “é proibido proibir” e esse é mais um a querer uma fatia do mercado em que a efervescência hormonal é a mola mestra e com o agravante de, pelo seu status, pelo papel social exercido por força de sua formação, se tornar o centro das atenções.
Estão numa idade em que não precisam e nem querem inimigos. Ninguém precisa e quer. Muito menos eles.
Queremos amigos. Precisamos deles. Queremos partilhar conquistas. Precisamos socializar vitórias.
É necessário que não percamos... nunca... a capacidade de sonhar, de nos apaixonar, de amar. Precisamos entender que a tristeza, o estado de prostração de um(a) adolescente quando ´deixa de ficar` ou – perdoem-me meninos e meninas – rompem um namoro, naquele momento, é mais doloroso e terrível do que perder um bem material de valor para muitas pessoas. Perda é perda, mas um grande amor – e naquele momento é o maior do mundo - ´nunca mais` teremos outro igual. Teremos muitos outros, mas igual, não!
_ Um grande amor só se esquece com outro grande amor! – Filosofei, com um aperto no coração pelo sincero pesar do menino, tentando mostrar-lhe, que essa é a idade das muitas paixões, dos vários amores, de beijar muito. Lembro-me, que há 35 anos essa frase surtiu um efeito positivo em mim. O tempo não consegue tirar-lhe a força semântica.
Precisamos resgatar a capacidade de nos emocionar. Chorar nunca foi coisa de `mulherzinha`... é coisa de homem... de ser humano... ter sensibilidade não é para qualquer um... é, deveras, coisa de macho. Apesar e além de não “robertocarlosear” , mas respeitar quem goste dele, e dando seqüência a idéia das reticências postas nessas reflexões, provoco a subjetividade e deixo outras com o verso desse cantor e compositor: “é preciso saber viver!”.

__________________
* Equivocadamente foi divulgado que vem do latim alumnus (a-lumnus), que significa sem luz. Maiores e melhores explicações, vide texto de Newton Luís Mamede em http://www.revelacaoonline.uniube.br/ombudsman/aluno.html .
** Mestre em Educação, Professor e Orientador Educacional da Rede Pública Municipal de Cabo Frio. Atualmente exercendo o cargo de chefe do setor de serviços desses profissionais, que atuam do 6º ao 9º anos do Ensino Fundamental e no Ensino Médio na Secretaria de Educação deste município.
¹. “Para começarmos a entender a Nova Ordem Mundial (NOM) você precisa esquecer o que lhe foi dito sobre as diferenças filosóficas entre os Republicanos e Democratas, esquerda e direita, socialistas e libertários, capital e trabalho, revolucionários e conservadores, brancos e negros, etc. Os planejadores da Nova Ordem Mundial sabem que devem usar, influenciar, e prover para que todos esses grupos alcancem os objetivos perseguidos, que são:
* Consolidar tudo;
* Comercializar tudo;
* Classificar tudo;
* Reivindicar tudo;
* Controlar tudo.
Se esses objetivos forem totalmente implementados, a liberdade de expressão, de personalidade, de metas e decisões pessoais, de responsabilidade individual, propriedade privada, empresa privada, moralidade, governos constitucionais, soberania nacional e liberdade religiosa não serão mais tolerados. Todas as pessoas, de todas as nações, estarão sujeitas ao sistema de gerenciamento da NOM.” (Érica Carle)
². Esse mecanismo remonta à Idade Média, quando, por volta do século XIII, a Igreja Católica resolveu acolher crianças rejeitadas por suas famílias. Para isso, eram disponibilizados espaços giratórios conhecidos como "roda dos expostos", onde se colocava o bebê de um lado, para que fosse retirado do outro, mantendo-se o anonimato. Essa prática se disseminou e chegou ao Brasil em 1730, com a instalação de "rodas" em algumas Santas Casas da Misericórdia. No entanto, na primeira metade do século XX, o procedimento foi extinto.
³. VANDRÉ, Geraldo. Pra não dizer que não falei de flores. Canção escrita e interpretada por
Geraldo Vandré no Festival Internacional da Canção de 1968. . Ficou em segundo lugar.

Referências Bibliográficas:
CARLE, Érica. Guia do Estudante Esperto Para Compreender a Nova Ordem Internacional. setembro de 2005. Disponível em:
http://www.espada.eti.br/guia-nom.asp .
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1988.

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